O PIONEIRO DO ESPIRITISMO NO BRASIL
Tendo em vista a importância histórica para
nós, espíritas, do pioneiro do espiritismo no Brasil, recordei-me da pergunta
que fiz, por diversas vezes, aos frequentadores e também aos diretores de Casas
Espíritas: Quem sabe o nome do pioneiro do espiritismo no Brasil?
E, para minha surpresa, sem exagero, nunca
obtive sequer uma resposta satisfatória.
Diante desse fato, fiquei pensando, amigo
leitor: será que a nossa memória é tão curta assim? Ou estaria faltando
interesse, de grande parte dos espíritas, pela história da nossa doutrina,
principalmente no nosso país?
Milito nas fileiras do espiritismo há
trinta e cinco anos e, com toda sinceridade, escutei apenas, tanto na mídia
escrita, falada como na televisiva, algumas poucas referências sobre Luiz
Olympio Telles de Menezes,o pioneiro do espiritismo no Brasil,
Sei, perfeitamente, que a sua biografia se
encontra na internet e em alguns escritos. Mas a minha estranheza é a falta de
divulgação desse notável homem nos púlpitos, revistas e livros, no nosso
movimento espírita.
O nosso ilustre pioneiro teve a coragem de
trazer, professar e divulgar a então desconhecida Doutrina Espírita, num
momento difícil da nossa história sociopolítica e religiosa.
Autoridades da época mandavam em todos os procedimentos, atos e ações dos
cidadãos. Protegidas por leis contrárias à liberdade de expressão e tendo um
modelo religioso oficial que ousava ser o único representante de Deus na terra,
dominavam os seus ditos fiéis, inclusive com indução à violência, em diversas
localidades ou, ainda, com recomendações de marginalização dos direitos
individuais de quem contrariasse o então sistema vigente.
No entanto Telles de Menezes não se
intimidou. Nesse clima, fundou o primeiro Centro Espírita na cidade de
Salvador, no dia 17 de setembro de 1865, com o nome de: Grupo Familiar do
Espiritismo. Motivado, juntamente com alguns participantes, por uma comunicação
mediúnica, cujo espírito se denominou “Anjo de Deus”, enfrentou com dignidade o
momento hostil que dominava a nossa pátria.
Foi, em 1849, redator do jornal “Época
Literária”, tendo sido mais tarde promovido a diretor. Estimulado por essa
experiência jornalística (em 08 de março de 1869) fundou o primeiro jornal
espírita, também na cidade de Salvador-BA, intitulado “Ecos de Além Túmulo.” A
seguir trechos do seu discurso, quando da fundação desse jornal: "A nós, que nos achamos
hoje reunidos, constituindo, naturalmente, o Grêmio dos Estudos Espiríticos na
Bahia, e a quem uma certa vocação do Alto cometeu o empenho desta árdua missão,
árdua e até espinhosa, sim, mas
irradiante
de bem fundadas esperanças, incumbe, pelos meios que de mister é serem
empregados, propagar essa crença regeneradora e cristã, fazendo-a chegar
indistintamente a todos os homens; e o meio material que a Providência
sabiamente nos oferece para levar rapidamente a palavra da verdade à
inteligência e ao coração de todos os homens, é a Imprensa".
Por esse motivo, hoje
Olimpio Telles é considerado o Patrono da imprensa espírita no Brasil.
Mas não parou aí. A coragem e a certeza de
que estava divulgando um corpo de doutrina que tem por objetivo libertar consciências,
Telles de Menezes escreveu uma carta aberta, ao Metropolitano e Primaz do Brasil,
D.Manoel Joaquim da Silveira, em resposta à pastoral que este publicou, com o
título “Erros perniciosos do Espiritismo”, refutando a escrita difamatória e
caluniadora que constava no referido artigo.
Consta também de suas atividades a primeira presidência
da Associação Espírita Brasileira, que
visava “o desenvolvimento moral e intelectual do ser humano nas amplas bases da
filosofia espírita, e a exemplificação do sublime e celestial preceito da
caridade cristã.”
Cumprindo sua missão na Bahia, Luiz Olympio
Telles de Menezes transferiu-se para o Rio de Janeiro, na Rua Barão de São
Félix, com 65 anos de idade.
Não poderíamos deixar de citar que a Revista
Espírita – Jornal de Estudos psicológicos, editada por Allan Kardec, faz em
resumo as seguintes referências:
Revista de 1864 – pág.210-Edicel:
Artigo do Jornal do Comércio do Rio de Janeiro
de 23/09/1863
Matéria:
Crônica de Paris
Destaca os progressos do Espiritismo. E ao
final, uma observação de Kardec:
“Constatamos
com satisfação que a ideia espírita faz sensíveis progressos no Rio de Janeiro,
onde conta numerosos representantes fervorosos e devotados.”
Revista de 1865 – pág.323 – Edicel:
Matéria:
O Espiritismo no Brasil – Extraído do Diário da Bahia – 27/09/1865:
Refere-se a uma carta assinada por Luiz
Olympio Telles de Menezes, José Álvares do Amaral e Joaquim Carneiro de Campos,
solicitando ao redator do Diário da Bahia uma publicação, refutando o artigo da
Gasette Médicale de Paris, escrito há mais de seis anos, pelo Dr. Déchambre,
contra a doutrina espírita e transcrita no citado diário.
Eis
trecho da carta:
“Senhor
redator”,
“Como
sois de boa fé, no que concerne a doutrina do Espiritismo, rogamos a bondade de
publicar no Diário uma passagem do Livro dos Espíritos, pelo Sr. Allan Kardec,
já na décima terceira edição, a fim de que fizeste de um artigo da Gazette
Médicale de Paris, escrito há mais de seis
anos, pelo dr. Déchambre, contra essa mesma doutrina, e no qual se
reconhece que o dito doutor não é fiel nas citações que faz, do Livro dos
Espíritos, visando depreciar essa doutrina.”
“Somos,
senhor redator, vossos amigos obrigados”
Revista
de 1867 – Pág.27 – Edicel
Matéria:
Necrologia: Sr. Leclerc – 01/1867
Refere-se ao Sr.Leclerc, que era francês, mas
morou no Brasil e aqui aprendeu sobre a
doutrina espírita, depois retornou à França, onde veio a desencarnar.
Foi um grande e dedicado espírita.
Revista de 1869 – Pág. 199 – Edicel
Matéria: O Echo de D’Além Túmulo
A Publicação: “É justo registrarmos ainda as
referências da Revista Espírita ao aparecimento no Brasil de “O Echo d’Além
Túmulo”, a famosa publicação baiana, pioneira de nossa imprensa espírita. No
Número de outubro de 1869, em sua secção bibliográfica, a Revue publica o
seguinte:
“O
Echo d’Além Túmulo, monitor do Espiritismo no Brasil, publicado mensalmente na
Bahia, em língua portuguesa, 60 páginas por exemplar in-oitavo, sob a direção
do Sr. Luiz Olympio Telles de Menezes, membro do Instituto Histórico da Bahia.”
Na sequência, Kardec escreve um extenso
artigo sobre o Jornal Eco de Além Túmulo, felicitando, o Sr. Luiz Olympio pela
iniciativa corajosa que demonstrou. A matéria leva o seguinte título: Novos
Jornais Estrangeiros.
Convido o leitor amigo a consultar a citada
revista e ler esse interessante artigo.
OUTRAS
INFORMAÇÕES:
Telles de Menezes também foi um dos
fundadores do Conservatório Dramático da Bahia, em agosto de 1857, do qual
participavam, entre outros, personalidades como Rui Barbosa.
Foi professor primário, funcionário da
Assembleia Legislativa e Oficial da Biblioteca Pública da Bahia.
Falava o Inglês, o Francês, o Castelhano e
o Latim.
HOMENAGEM
A TELLES DE MENEZES
1.
Através de proposta da Federal Espírita Brasileira, o então Departamento de
Correios e Telégrafos autorizou a utilização de um carimbo postal, no dia 17 de
setembro de 1965 – exatamente 100 anos após a fundação do “Grupo Familiar do
Espiritismo.”
2.
Em 4 de dezembro de 1966, foi inaugurada em Salvador a Rua Professor Telles de
Menezes, de acordo com a aprovação da Câmara Municipal daquela cidade.
E no
dia 16 de março de 1893, desencarna, na cidade do Rio de Janeiro, esse notável
brasileiro, a quem nós devemos muito, pela implantação da doutrina de
libertação de consciências, no Brasil – A Doutrina Espírita.
Fonte/Ref:
1-http://www.feparana.com.br/biografia.php?cod_biog=200
2-Wikipédia – a Enciclopédia Livre
Revista Espírita – Jornal de Estudos Psicológicos
1864 – 1865 – 1867 e 1869 – Edicel
Antonio Tadeu Minghin
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