O Sofrimento
Quando pensamos na dor, imediatamente
associamo-la à doença, portanto, direcionados equivocadamente pelo senso comum,
entendemos que seja um sinal patológico - de doença.
Anete Guimarães¹ nos traz interessante
conceito sobre a dor: sinal fisiológico
que caracteriza uma injúria celular, visando à integridade do organismo pelo
reflexo de retirada.
Fica claro que a dor funciona como um
alarme quando no universo de nosso corpo algo começa a funcionar de forma
desequilibrada. O corpo tende a manter um estado saudável e, para isso, envia
através da dor um recado de perigo.
Conclui-se, assim, que só sente dor quem
é saudável! Incrível, não?
Por analogia, reflitamos a respeito do
sofrimento, que é uma dor moral. O
espírito também tende a manter um estado saudável. Mágoa, culpa, medo, raiva e
outras emoções consideradas negativas são sinalizações de que nossos
pensamentos, sentimentos e atitudes estão forjando uma injúria moral passível
de causar desarmonia espiritual e mental.
Por que uma injúria moral? Em O Livro dos
Espíritos, questão 621, Kardec indaga aos espíritos de ordem superior onde está
escrita a Lei de Deus e a resposta é clara: na consciência. Sendo assim, todas
as vezes em que contrariamos a Lei lesamos a nós mesmos e, consequentemente,
fazemos um quadro de sofrimento que nos impulsiona a um reflexo de retirada, ou
seja, um redirecionamento comportamental.
É dessa forma que entendemos a função
divina de cada uma das emoções inquietantes: despertar em nós o entendimento de
nossa necessidade de preservação de nosso equilíbrio, norteando a própria
conduta por princípios éticos e morais.
Vale a pena questionar-se: sofrer é bom?
Tomando por base as sensações desagradáveis do sofrimento, a resposta é não, um
sonoro não! Observando por ângulo diverso, no entanto, podemos afirmar
peremptoriamente que sofrer é útil, necessário e desejável! E por quê?
Porque o sofrimento, assim como a
dor, são apenas estímulos agindo em
nosso benefício, visando nossa integridade.
Alguns poderiam objetar: o sofrimento é
mesmo necessário? Partindo do princípio de que estagiamos num planeta de provas
e expiações, por nossa vez inquirimos: quem está livre de ferir a Lei,
explorando o livre arbítrio em quedas espetaculares?
Diz
o espírito Emmanuel² que Jesus, exceção entre nós – também criado simples e
ignorante – transitou pela fieira da ignorância e não pela do mal. Nós outros,
por sermos espíritos que viemos para o resgate de faltas passadas ou para
aprendizado em experiências humanas³,
temos transitado por essas duas vias – a da ignorância e a do mal – não prescindindo, portanto, da dor e do
sofrimento.
Com alegria e com esperanças renovadas, ao
atingirmos esse conhecimento passamos a utilizar estímulos dolorosos em nosso benefício, não
mais brigando com Deus, não mais buscando externamente o motivo de nossas
dificuldades e infelicidades e não mais nos acomodando confortavelmente nelas.
Nossos votos de muita paz!
Rita
Mercês Minghin
¹
Anete Guimarães, médica, psicóloga e filósofa. Palestra Espírita: Forças Interiores da Mudança
²
O Consolador, pelo espírito Emmanuel, psicografia de Chico Xavier, questão nº
243
³
idem 2
ALGUMAS COMPARAÇÕES ENTRE A CIÊNCIA ACADÊMICA E A CIÊNCIA ESPÍRITA
Amigo leitor, ao deparar com esse título, no
primeiro momento pode-se pensar que será uma vertente de opiniões ou
afirmativas entre as duas correntes. Mas não, o que temos hoje é um somatório
de alguns conceitos a respeito dos quais a pesquisa científica corresponde com
a informação espírita.
Se, no passado, a ciência acadêmica afastou-se
consideravelmente dos juízos religiosos, na atualidade as pesquisas vêm
demonstrando consonância com boa parte dos postulados da ciência espírita. Com
isso, um ponto de união entre ambas é traçado.
A Doutrina
Espírita, foi codificada por Allan Kardec e transmitida ao mundo pelos
Espíritos Superiores, também como
ciência. Fica dessa forma evidente que está de conformidade com as leis
naturais, razão pela qual não é estranho
que as mesmas conclusões sejam tiradas por diversas pesquisas de hoje. O mestre
Allan Kardec, com seu caráter de homem íntegro, asseverou que, se a ciência
provasse o contrário sobre algum aspecto, o espiritismo mudaria.
Então,
caro leitor, passamos a algumas
comparações, como diz o título do artigo, em recentes pesquisas, destacando o Grande Colisor de Partículas, a Fecundação
e a Mediunidade.
I- Grande Colisor de Hádron ( Partículas
)
Em artigo publicado nesta revista, em
Agosto de 2010, destacamos o maior experimento científico até então realizado, ou
seja, o Grande Colisor de Hádrons (Partículas), que reproduziu o cenário do
Cosmos, em um trilionésimo de segundos
após o Big Bang. Pois bem, os cientistas estão “desvestindo” a matéria, para
chegar ao Bóson de Higgs, a matéria mãe
chamada por alguns de “a Partícula de
Deus.” Essa teoria foi levantada nos anos de 1964, pelo físico Peter Higgs e
1974, pelo físico Philip Anderson e
agora os cientistas avançam na pesquisa para comprová-la.
Mas afinal, o que é essa matéria mãe, apontada pelos cientistas e
que acabou ganhando o epíteto complementar de Partícula de Deus? Como resposta,
é a matéria primária que origina todas as outras matérias ou todos os corpos
físicos.
O
que significa, no Espiritismo, matéria mãe? Respondem os Espíritos da
Codificação que se trata da matéria original, ou seja, que dá formação a todos
os corpos físicos ou todos os elementos materiais do Universo, por isso leva o nome de Fluido Cósmico
Universal.
Como podemos notar, a Ciência atual tem o
mesmo propósito, ou seja, comprovar essa matéria primeira.
II - Fecundação
O
processo da fecundação, pesquisado pela ciência investigativa, vem ao encontro ao
que é narrado no livro Missionários da Luz (André Luiz/Chico Xavier), 36ª.
edição, pag.213:
“Após acompanhar, profundamente absorto
ao serviço, a marcha dos minúsculos, competidores que constituíam a substância
fecundante identificou o mais apto, fixando nele o seu potencial magnético, dando-me a ideia de que o ajudava a desembaraçar-se
dos companheiros para que fosse o primeiro a penetrar a pequenina bolsa
maternal.”
Na pag.222 do mesmo livro, diz o
Instrutor Apuleio: “Em visto disso, meu
amigo, a célula masculina que atinge o óvulo em primeiro lugar, para
fecundá-lo, não é a mais apta em sentindo de “superioridade”, mas em sentido de
“sintonia magnética”, em todos as casos de fecundação para o mundo das
formas. Esta é a lei, pela qual os geneticistas do Globo são muitas vezes
surpreendidos em suas observações, em face das mudanças inesperadas na
estrutura de vários tipos, dentro das mesmas espécies. As células possuem
também o seu “individualismo magnético”
algo independente nas manifestações vitais.”
E
mais adiante, na mesma página:
“Se a mulher pode exercer a sua
influência decisiva na escolha do companheiro, também a célula feminina, na maioria das vezes, pode exercer a sua atuação na escolha
do elemento que a fecundará.”
Agora,
vejamos o que diz recentes pesquisas sobre a fecundação:
Depois de uma década de
estudos, os pesquisadores da Universidade de Stanford (EUA), liderados por
Stephen Quake, professor da bioengenharia da instituição, conseguiram chegar a
uma técnica que decifrou o genoma de uma das menores células do organismo.
Jianbin Wang, aluno de
graduação que assina o artigo como primeiro autor, diz que o que mais fascinou
os cientistas foi o alto grau de variação dessas células. “Cada espermatozóide
tem um genoma único, com padrões
únicos de recombinação e mutação. Essa diversidade pode fornecer habilidades de
fertilização diferentes para cada uma dessas células do esperma.”
Comparamos a informação de André Luiz,
quando diz do individualismo magnético,
com o genoma único informado pelos cientistas. A pesquisa afirmou que
cada espermatozóide age com padrões
únicos de recombinação e mutação. E arrematam os pesquisadores: “os
espermatozóides não agiriam na base do eu primeiro, numa espécie de corrida
egoísta, como ensinavam as aulas clássicas de Biologia. Em vez disso, eles
parecem organizados como uma tropa de elite.”
Concluindo:
André Luiz, pelo instrutor Apuleio, afirma que a célula feminina pode atuar,
exercendo a sua escolha no elemento que a fecundará.
E a pesquisa científica diz: “na época da ovulação, o organismo da
mulher parece ter interesse em cooperar com o gameta masculino.”
Portanto, podemos deduzir que a Engenharia
Genética do Mundo Espiritual, ao programar, em muitos casos, a reencarnação, já
designa o espermatozóide, que leva os códigos genéticos previamente trabalhados,
para que o mesmo possa produzir efeitos desejados, cumprindo-se assim o planejamento para o
futuro reencarnante.
III- Mediunidade
Pois bem, caros leitores, seguindo o
objetivo do nosso artigo, deparamos com uma notícia recente na revista Época,
de 11/2012, muito estimulante para os
nossos estudos: “Os avanços da ciência
da alma.” A pesquisa, rigorosamente científica, foi referente à mediunidade
e teve a responsabilidade dos seguintes cientistas: Julio Peres, Alexander
Moreira-Almeida, Leonardo Caixeta, Frederico Leão e Andrew Newberg. Foi
realizada na cidade de Filadélfia (EUA), sendo a primeira vez que o cérebro de
médiuns foi investigado com recursos da neurociência, utilizou-se scanner, mapeando-se
toda a área cerebral de dez médiuns pesquisados, durante o chamado transe
mediúnico.
Segundo o artigo da Revista Época, os
resultados foram surpreendentes, pois, quando comparados com as duas áreas
cerebrais, da criatividade e do planejamento – constatou-se que essas áreas
não foram acionadas, ou melhor, não atuaram no processo mediúnico. Portanto a
autoria seria dos espíritos comunicantes, hipótese que os médiuns defendem.
Assim, amigo leitor, essas são apenas
algumas comparações, dentre as diversas que hoje a ciência acadêmica realiza,
que vêm confirmar os postulados espíritas, informados a nós através da
codificação, pelos Espíritos Veneráveis e o mestre Allan Kardec, em 18 de abril
de 1857 e as obras de André Luiz/Chico
Xavier.
Antonio
Tadeu Minghin
REFERÊNCIA
BIBLIOGRÁFICA:
·
Partícula de
Deus, título do livro de Leon Lederman. Original em inglês (The God Particle)
·
Revista Espírita
– Allan Kardec : Ide – junho/1858 e pela editora Edicel: novembro/1864 – setembro/1865
- Março/1866 – junho/1868
·
O Livros do
Médiuns- FEESP: Cap.I - pg.73 e Cap.XIV -
Cap.VIII – pg.149
·
A Gênese - Lake:
Cap.VI – pg. 92, 93 e 98 e Cap.XIV – pg. 232
·
O Livro dos
Espíritos – Ide: pg:13,52,66,140
FUNÇÃO DA CASA ESPÍRITA
A Terra, que
se viu coberta por densas sombras na Idade Média, que passou pelo Século das Luzes, atravessa, agora, singular período. Muitos
proclamam em discussões acirradas que nunca dantes vivemos calamidades sociais
e naturais tão ásperas, outros atrevem-se, incautos, a dizer que Deus nunca
esteve tão distante. Enganam-se uns e outros.
Por toda
parte encontramos criaturas procurando um sentido maior para suas vidas. Reconhecemos,
no entanto, que essa procura por vezes se expressa de forma muito dolorosa,
através de fugas espetaculares e de excessos de todos os matizes, que os
conduzem, não raras vezes, ao encontro de maiores padecimentos por
desconsiderarem a paternidade divina.
E em meio a
tanta dor surge por remédio providencial
a Casa Espírita, divino recanto de paz e refrigério, onde encarnados e
desencarnados encontram o necessário refazimento das forças psíquicas.
É bem
verdade que muitos chegam à cata de um milagre, olvidando que a vida por si só
já é um milagre. Querem não sentir dor, não padecer de nenhuma limitação, não defrontar
obstáculos, e encontram a abençoada oportunidade de servir. Afligem-se com as doenças
do corpo, descobrem o remédio para a alma. Insistem em manterem-se na ignorância reproduzindo
comportamentos inadequados do pretérito
e cultivando outros tantos no presente, deparam-se com criaturas
desenfaixadas das vestes carnais que vêm de longe compartilhar de suas dores
oferecendo exemplo vivo de necessidade de mudança.
No labor a que
se entregam, na aquisição do conhecimento libertador de consciências, as
criaturas, todas elas, são promovidas a médicas de si mesmas. Desenvolvem
capacidade enorme de vencer seus desafios, encontram a alegria do trabalhador
da última hora.
A Casa
Espírita é isto: o lar, o hospital, a escola, a oficina de trabalho, tudo
integrado no soerguimento dos filhos de Deus.
Muita Paz!
Rita Mercês Minghin
A Justiça Divina Segundo o Espiritismo
"Por mim mesmo juro - disse o Senhor Deus - que não quero a
morte do ímpio, senão que ele se converta, que deixe o mau caminho e que
viva". (EZEQUIEL, 33:11.)
A ideia de um
Deus antropomórfico figura ainda hoje entre a humanidade, apesar do advento do
Cristo. Há mais de 2000 anos, Jesus falou de um Pai infinitamente justo e
misericordioso, que deseja a nossa conversa. O Deus das antigas concepções -
que se vingava nas futuras gerações, que se entristecia, que tinha preferências
em relação aos filhos, que se irava... - foi perdendo o sentido quando Jesus O
designou por Pai. Já não era o senhor dos exércitos.
Para dar sequência às
lições trazidas pelo Senhor, veio o Consolador Prometido (que acreditamos ser o
Espiritismo), possibilitando maior compreensão a respeito de justiça, pois
aliou esta à misericórdia com plena harmonia.
“A Terra estava mergulhada em sombras, e
então, fez-se luz!”
A partir do trabalho gigantesco de uma plêiade de Espíritos
superiores, encarnados e desencarnados, pôde-se começar a entender a Justiça
Divina. Aqueles que até então temiam o Pai e Seu olhar perscrutador passaram a converter medo em respeito e amor; a
considerar a dor não como castigo, punição, mas como um alerta sinalizando a
necessidade de reforma, de mudança.
Buscando a lógica da dinâmica da vida, compreendeu-se:
* o céu, como as infinitas moradas da casa do Pai;
* o inferno, como estado de consciência culpada;
* as penas eternas, como lições de longo curso sem, no entanto,
serem eternas;
* os demônios, como homens profundamente encarcerados na
ignorância e na dor;
* os anjos não como criaturas eleitas, mas como homens que
aprenderam a amar e a servir incondicionalmente;
* a morte, apenas como uma passagem;
* o presente, o somatório de nossas experiências pretéritas e
* o futuro, como a plenitude da vida.
No exame das lições evangélicas, à luz do espiritismo, percebe-se
a fragilidade da justiça humana, que mais pune do que educa, mais se vinga do que ampara. Assim
sendo, aumenta-se de forma superlativa o clamor das almas rogando ao Senhor da
Vida por paz, por misericórdia, por justiça, olvidando que tudo precisa ser
desenvolvido na intimidade do ser.
Do átomo ao arcanjo, percorre-se extensa faixa de tempo, em que o
ser acicatado por desafios de toda sorte é compelido à autodisciplina, ao
desenvolvimento de sentimentos nobres, à percepção mais ampla da própria
responsabilidade perante tudo o que lhe acontece, tomando para si as rédeas do
seu destino.
Bafejados pela luz do conhecimento libertador de consciências, a
pouco e pouco, vence-se a inércia, as ilusões, o acomodamento, como a crisálida
que se esforça por romper o casulo e alçar voo rumo ao
infinito, ao futuro que nos aguarda.
Muita Paz!
Rita Mercês
DEFINIÇÃO ESPÍRITA DO BEM SOFRER E DO MAL SOFRER
Um
dos maiores ensinamentos para a humanidade, sem dúvida nenhuma, foi o da
bem-aventurança, verdadeiro tratado de filosofia, ciência e de consequência
moral, proferida no “Sermão da Montanha”, pelo maior exemplo bom que já passou pela
terra; seu nome? JESUS. Tanto é que, um outro
grande mestre, não cristão, também exemplo de paz e amor - Mahatma Gandhi - proferiu
que se todos os tratados de ensinamentos morais se perdessem, permanecendo somente o “Sermão da Montanha”, a humanidade
estaria servida para todo o sempre. Pois bem, amigo leitor, o tema de hoje é a
definição espírita sobre o Bem Sofrer e o Mal Sofrer.
Quando
Jesus diz: “Bem Aventurados os que choram”, ou seja, os Aflitos, e completa
dizendo “...porque serão consolados”, a primeira vista, com tantos compêndios,
livros e outras fontes de informações sobre o pensamento positivo,
neurolinguística, etc..., pode parecer uma apologia ao sofrimento no sentindo
literal, mas na verdade não é. Nós não estamos aqui para pagar penitências, mas
sim para evoluir, para fazer o que não fizemos ou refazer aquilo que foi mal
feito em outra existência. Outrossim, explica ainda a Doutrina Espírita em acordo com os ensinamentos do Mestre Jesus, que a
Lei Divina é sábia, perfeita e imutável,
estando, portanto, presente em todas as condições de vida do Universo. No que
tange a Humanidade, que já atingiu o seu livre arbítrio e com ele a capacidade
de pensar, de agir e de decidir, sendo senhora do seu pretérito, presente e futuro,
e responsável por todos seus atos, é importante salientar que tem o dever de
evitar os seus males, trabalhando conscientemente o seu adiantamento moral e
intelectual. Assim, na verdade, não existe o mal no sentido que se transfere a
ele, sendo que o tão dito “mal” é simplesmente a ausência do bem. Explica a
Doutrina da Lógica, que DEUS, Pai Misericordioso e Justo, não pune ninguém, tendo
ele simplesmente criado as Leis Naturais. O ser humano “sofre” quando, por
vontade própria, não corresponde a essas Leis. Então, surge o sofrimento ou a
dificuldade, atingindo por si só, a consciência do que precisa mudar e a
sabedoria de fazer isso. Desse modo, a Lei Divina oferece tantas chances
quantas forem necessárias para que cada um, através de existências futuras,
pela educação ou reeducação moral, possa vencer bem os obstáculos criados por
si mesmo.
Vamos
refletir sobre isso? Muita paz a todos.
Antônio Tadeu Minghin
Procusto
Alguns sinais de intolerância:
Acreditar que
• todas as nossas crenças são verdadeiras;
• podemos mudar as pessoas;
• temos o controle de tudo e de todos;
• reunimos condições para salvar o mundo;
• é sempre aceitável a imposição de nossos pontos de vista;
• o outro é perfeito e, como tal, não pode falhar. Esses itens não esgotam o padrão de comportamento da pessoa intolerante, mas evidenciam algumas de suas características. Claro é que nesse comportamento há mais conflito e ausência de autoconhecimento do que o desejo de prejudicar ou subjugar. É sinal de intolerância, expresso de variada forma, a incapacidade de conviver bem com as pessoas como se nos apresentam, com suas idiossincrasias. Inclui-se aqui também a dificuldade de aceitar determinadas situações que não podem ser modificadas, momentaneamente ou não. Tentando ajustar o que o outro é às próprias vontades e/ou necessidades, corrompemos-lhe a identidade, inviabilizando assim relações saudáveis e verdadeiras. Oportunamente, lembramos a personagem mítica, Procusto. Procusto era um bandido que vivia na serra de Elêusis. Em sua casa, havia uma cama de ferro, que tinha seu exato tamanho. Convidava todos os viajantes a se deitarem nela. Se os hóspedes fossem demasiado altos, ele amputava o excesso de comprimento para ajustá-los à cama, e os que tinham pequena estatura eram esticados até atingirem o comprimento suficiente. Uma vítima nunca se ajustava exatamente ao tamanho da cama porque Procusto, secretamente, tinha duas camas de tamanhos diferentes.¹ Assim, de forma análoga à da personagem mitológica, tentamos enquadrar as pessoas em nossas expectativas. Se a conversão não acontece sobrevêm a frustração, a raiva e por fim o distanciamento. Sinaliza-se, assim, que nossos processos afetivos padecem de falta de amadurecimento. Por isso existe tanto sofrimento e tanta luta inglória nos movimentos em busca da alegria nas relações, sejam elas entre namorados, cônjuges, pais e filhos, amigos, companheiros de trabalho etc. Será que sofremos a síndrome de Procusto? Temos esticado ou cortado muita gente? A métrica tem sido nossa prioridade ou já valorizamos e respeitamos as diferenças? Procusto deve ter sido tão solitário... E quantos de nós temos olhado ao redor sentindo a ausência de pessoas tão queridas, que afastamos de nosso convívio deliberadamente. Jesus sinalizou: Meus discípulos serão conhecidos por muito se amarem.² Ah, quão longe nos encontramos da fraternidade proposta pelo Cristo! Quanto receio de abrir mão de pontos de vista... Quantas guerras declaradas a pretexto de nos protegermos! Recorramos à orientação de Agostinho³ buscando o autoconhecimento e, assim, abandonaremos em definitivo as duas camas de ferro (o fardo pesado) que insistimos em carregar: a intolerância. CE Discípulos de Jesus Rita Mercês Minghin ¹ http://pt.wikipedia.org/wiki/Procusto ² João, 13:35 ³ Questão 919 de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec